Prostituição infantil e consumo excessivo de cannabis assolam Nkobe, na Matola

Nkobe, um bairro movimentado na Matola, esconde uma realidade sombria onde a infância é roubada e a saúde pública é ameaçada. Esta reportagem mergulha nas profundezas deste local para expor a exploração sexual infantil e o consumo desenfreado de cannabis, problemas que corroem a vida de muitos miúdos e jovens.

A Realidade Cruel da Exploração Infantil
Durante o dia, as ruas de Nkobe fervilham com a rotina de escolas e mercados. Contudo, ao cair da noite, uma parte dessas mesmas ruas transforma-se num palco de exploração sexual, onde meninas menores de idade são aliciadas. Estes encontros acontecem frequentemente em barracas improvisadas e salões sem portas, sob o pretexto de “diversão”.
As meninas, muitas vezes com menos de 18 anos, são abordadas e recebem bebidas alcoólicas de homens adultos. O que começa como um convite para beber, rapidamente se transforma numa negociação por sexo, trocado por bebidas ou dinheiro. Uma jovem de 16 anos, aqui chamada Gabi, partilhou que a intenção é divertir-se, mas acaba por ter de pagar com o corpo.
Após estes acordos, muitas destas meninas são levadas para guest houses nas proximidades, onde a exploração continua longe dos olhares da comunidade e das autoridades. O padrão é alarmante: saem de casa com a intenção de “se divertir”, são aliciadas em mercadinhos ou barracas improvisadas, e acabam em locais discretos como carros ou guest houses, perpetuando um ciclo de abuso.
A vulnerabilidade é explorada sem piedade, como no caso de Maria, uma jovem com problemas mentais, sistematicamente abusada na paragem “Primeira Casa”. Homens aproveitam-se da sua condição, e apesar dos esforços de conhecidos para a proteger, a falta de proteção efetiva permite que esta tragédia continue.
Os pais sentem-se impotentes. O pai de Filó, de 16 anos, lamenta não ter imaginado que a filha seria abordada e explorada. A mãe de Josdita, de 15 anos, descreve a dor de ver a filha regressar a casa com medo e tristeza, incapaz de a proteger da “realidade cruel do bairro”. Há um grito silencioso de medo na comunidade, onde muitos têm receio de falar, mas não podem aceitar que as suas crianças continuem a ser exploradas, com casos de gravidez precoce e sem paternidade reconhecida.
A Epidemia da Suruma
Paralelamente à exploração sexual, Nkobe enfrenta outra praga: o consumo excessivo de suruma (cannabis). Em quase todos os quarteirões, é comum encontrar casas que vendem esta droga, especialmente perto de locais frequentados por jovens, como a Escola Secundária de Nkobe e zonas como a Celina, Machiane, a Paragem Loja e a Paragem do Car Wash.
A venda é contínua, de manhã até à madrugada, e os consumidores são de todas as idades, incluindo crianças que, por vezes, compram a droga a caminho da escola. Estas casas funcionam como pontos fixos de venda e consumo, normalizando a situação e tornando a comunidade ainda mais vulnerável.
A circulação constante da suruma tem um impacto devastador na saúde física e mental dos habitantes, aumentando a sua vulnerabilidade a outras formas de exploração, incluindo a sexual. A falta de fiscalização agrava o problema, criando um ambiente onde o consumo de drogas parece ser uma parte aceitável do quotidiano.
A Teia da Impunidade
Barracas, guest houses e pontos de venda de suruma operam em Nkobe com uma aparente impunidade. A exploração infantil e o tráfico local coexistem, reforçando um ciclo vicioso de violência, abandono e marginalização. A comunidade, apesar de ciente, sente-se impotente e muitas vezes receia denunciar, permitindo que o problema se agrave.
Um Apelo Urgente à Ação
A situação em Nkobe é um grito de alerta para as autoridades, a sociedade civil e as organizações de proteção à criança. É crucial uma fiscalização rigorosa dos locais onde estas práticas ocorrem, bem como a implementação de programas de prevenção, acompanhamento psicológico e apoio social para os menores em risco.
Campanhas comunitárias de denúncia e conscientização são igualmente necessárias para quebrar o ciclo de silêncio e medo. Acima de tudo, é fundamental a aplicação rigorosa da lei contra os exploradores sexuais de menores e os traficantes de drogas. Enquanto estas ações não forem tomadas, a infância em Nkobe continuará a ser roubada, e a vida de muitos miúdos e jovens será marcada pela violência e pelo desespero.
Nkobe é mais do que um bairro; é um espelho da falência do sistema de proteção infantil e juvenil, onde a exploração sexual e o consumo de drogas se entrelaçam perigosamente, e a impunidade se torna uma cúmplice silenciosa de uma tragédia humana.



